Minha cabeça e minhas sentenças sempre foram belos enfeites para velhas bandejas. Sim. Sem. Algumas pessoas têm dito que não saio de casa, outras, porém que não paro em casa. Anteontem fui até a cidade onde vivi durante quatorze anos. Caminhei uns dois quarteirões perto de minha antiga casa. Percebi que as pessoas já não me reconheciam. Já não me cumprimentavam mais. Não puxavam uma cadeira para a varanda nem me chamavam para conversar. Não me paravam. Não acenavam. Não sorriam. Nem se quer olhavam direito. E quando olhavam, pairava um ar de desconfiança, um ar de recordação mal guardada, uma lembrança fosca, onde os olhos entreabertos, pensativos, com esperanças de um recordar. Mas o fim era sempre o mesmo, não recordavam. Acontece que eu recordava. Eu sempre recordo. Das ultimas palavras. Da ultima cor. Do ultimo lugar. E aquele lugar era o mesmo. As pessoas eram as mesmas. Apesar das rugas a mais. Não penso que tenha passado muito tempo. Não penso que tenha deixado uma vida inteira para trás. Não penso que tenha esquecido de todos aqueles. Não penso que minha face tenha mudado tanto. Não penso. Não. Nesse mesmo dia, fui até a casa de Dona Aimeè. Seria impossível que ela não se lembrasse de mim. Foi ela quem me apresentou a Baudelaire, aos dez anos. Mesmo não entendendo os seus enigmas e as suas palavras. Eu amava tudo o que ela me dizia. “-Dona Aimeè! Sou eu! A Ana! Sua pequenina!”. Ela não falou uma palavra. Ficou muda. Fechou a porta na minha cara e foi olhar pela cortina se eu ainda estava alí. Senti-me como uma estranha no meu próprio bairro. Não sei se foi o tempo que os fez esquecer-me, ou se fui eu que esqueci de avisa-los que ainda amo aquele lugar tanto quanto os amo. O tempo não volta. Fazer tudo de novo não adiantaria. As flores de Baudelaire morreram. Agora é tarde.
domingo, 24 de agosto de 2008
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
Constituição de Chocolate!
Nunca fui de gato e rato. Muito menos de cumprir mandamentos. Aos 10 saía à noite, aos 12 caia bêbeda, aos 13 fumava canela. Em 95 brincava de bonecas. Em 42 os nazistas invadiam Stalingrado. Em 45 a flor de Hiroshima desabrochava. Em 68 o AI-5 cuspia e censurava na cara de quem quisesse. Em 69 meus avós sofriam torturas da ditadura por defenderem seus ideais. Hoje, qualquer um cospe em religiões, mas quando o cu aperta eles rezam. E de modo contrário, hoje, religiosos escondem atrás dos evangelhos o seu lado ignorante, fechado e preconceituoso, para assim, se sentirem livres ao dizerem asneiras com um pretexto qualquer ao louvar por um âmago inexistente. Ontem e hoje, sempre houve alguém que gostasse de criticar o homossexualismo, entretanto - nunca amou na vida, muito menos tentou entender as opiniões alheias. Amanhã sempre terá alguém a julgar e criticar a política enquanto não move um dedo para revolucionar. Agora, sempre tem alguém querendo falar mais, dizer o que é certo ou errado, mesmo ao saber que vive em cima de muros, onde os fortes fazem as leis. Hoje, dizem ter inventado a mulher moderna, mas na cama e em casa muitas delas se submetem aos pés de muitos outros. Hoje, todo mundo se diz esquerdista, comunista e anti-capitalista, mas freqüenta todos os dias o Bob’s ou o Buger King e andam com seus sapatos importados ao sofrer influências diárias. Em 1215 a Magna Carta já falava sobre um querer qualquer de liberdade, e até hoje nada. (...) Eu não gosto de utilizar pretextos só pra dizer que eu quero chegar num ponto chamado Diretos Humanos. Nem reivindicar isto. (...) Muitos vão para a escola e são obrigados a ouvirem asneiras como Os direitistas são idiotas ou os esquerdistas são uns hipócritas; -Todo mundo é preconceituoso! Não adianta querer fugir! NÓS SOMOS PRECONCEITUOSOS!; -É! SOMOS RACISTAS! POR MAIS QUE VOCÊS NÃO QUEIRAM!... E é! Ouvi isso de um professor, e é um choque ouvir alguém falar assim... Como se a maioria fosse acreditar nisso e no que ele acha certo. Ouvimos a pura manipulação de uma geração que tenta nos oprimir, e entre outras coisas que escuto diariamente - sinto vontade de gritar ao ver tal, mas não me rebelo - apenas penso que cabeça dura um vez vai ser sempre cabeça dura. Porque em verdade, as pessoas não fazem nada. MUITOS até concordam, Ah! Ingênuos (e)muralhados! E o que causa isso é essa cabeça da geração acima, que nos chama indiretamente de - idiota, ingênuos, pseudos, não-revolucionários, de geração coca-cola -, uma cabeça que somente irá mudar quando nos rebelarmos. Porque eles nos provocam, nos chamam de incapacitados, enquanto na verdade eles só têm é MEDO de que nós pudéssemos ser melhores e mais revolucionários que eles. Eles têm é medo de que nós algum dia alcancemos os ideais que eles não conseguiram. Chamam-nos de geração não-pensante, de ridículos, de voto-nulo, de inexistentes, de problemáticos sem concepções religiosas. E ainda muitos da nossa geração ainda concordam com a “geração acima” ao invés de se rebelar contra a idéia deles, contra o medo deles. Porque eles (geração acima, geração mais velhas, nossos avós, pais) têm medo, e então nos oprimem para não conseguirmos o que eles queriam. E eles sabem que enquanto não houver sangue moral, ninguém vai entender o que é fazer da palavra - verdade. E assim nos fazem acreditar que não há mais nada a fazer. E enquanto nada acontecer eles vão continuar a nos provocar e nos oprimir ao tomar os seus chocolates quentes esperando por ver o nosso fracasso.
Orafodas, tire uma interpretação errada de qualquer palavra aí, e eu estarei no lixo.
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