sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Monólogos com Marina Moreirah

Em: Monólogos Scrapianos.

Relapso.

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Ela dava passos leves e calmos. Chegara mais à frente e de súbito retornava pelo medo sutil que sentia da água. Nunca havia visto o mar, era a sua primeira vez.
Nunca havia visto o mar mas lembrava-se muito bem de algumas outras vezes que foram as primeiras de algumas outras coisas.
Houve uma (primeira) vez porém, que foi de fato, a mais especial. E vendo o mar, ouvindo o mar, ela sentiu-se novamente naquela outra primeira vez.
Sentia o mesmo medo. Sua cabeça era palco, mais uma vez, de uma temível indecisão. Ela odiava decidir. Odiava decidir quando estava indecisa. E quando isso acontecia, colocava-se a pensar. Pensava por horas e horas afim de tomar a decisão mais correta.
Naquele dia não. Ela não pensou.
Deu outro passo leve e calmo pisando a areia molhada e a água veio. Veio a água, e ela ali, imóvel.
Não desviou o olhar para o seus pés, mas sentira o sal e a água entrando em seu corpo.
As ondas iam e vinham. Ela, de olhar fixo, acompanhava tal movimento pelos sons. E sentia seu corpo cada vez mais encharcado.
Foi como naquela outra primeira vez.
E quanto mais água e sal havia dentro dela, mas forte era tal recordação.
Mais uma (primeira) vez, lá estava ela encharcando-se de uma súbita decisão tomada indecididamente.
Dessa vez, pelo menos, ela aproveitou a água para transformar em lágrimas. E o sal serviu para que ela ficasse cada vez mais amarga.
Foi então que ela descobriu, o prazer de uma (in)decisão sincera e equivocada.
E ficou admirando esta beleza, até quando ela não houvesse mais, até quando só houvesse mar.

M. Moreirah.

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Solitária. Esbranquiçada, não-relatada, não-encantada, não-simbolizada e todas as formas adjetivas no particípio. Era assim que ela se via. Magra, nua, crua, (quase) sem-sentir, num não-tempo, numa não-vida. Era sempre um quase lá. Um quase qualquer. Todavia, nunca qualquer. Sentia-se como uma raiz (e não como flor) que sustenta um caule para manter um ser, vivo. Ela não se sentia um ser. Não se sentia nutrida. Sentia (quase) qualquer coisa, mas não viva. Sem pensar. Sem mover-se. Sem a reciprocidade de criar e criar e criar.
Na verdade, nunca pudera fazer coisa alguma. Pois nunca passara de uma (quase) flor de lótus. Assistia sempre a mesma paisagem, em águas que não eram as mesmas. Queria metamorfosear-se todos os dias. E era ela apenas que não sabia que (quase) mudava a cada momento. Ora radiava e ora broxava.
Não importava. Seus olhos em pétalas eram maiores que quaisquer olhos de borboletas. No fim, era tudo ambição, queria viver uma vida que não era a sua e, então não vivia. Era melhor. Queria voar, correr, gritar. Alimentava-se de relapsos de uma não-vida.
Uma vivência suja e inventada dentro de um ser que dava graça aos lugarejos mais grotescos. Só não sabia ela que era a mais bela entre as flores de qualquer campo, de qualquer lago e de qualquer lugar. Entretanto sabia muito bem que era (quase) a maior e monstruosa flor que afundava em águas quaisquer durante as noites e florescia com o sol, somente porque reconhecia sua hipocrisia e seu menosprezo - consigo mesma.
De fato, não merecera ser tão bela aos olhos. Suas aparências já não faziam mais parte do seu aroma.

Ana k.


Mero e puro, esmero.


A imensidão de um átomo não está em tamanhos,
mas em brilhos ofuscantes e furta-cores

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009


Nove e onze. Onze e treze. Sete e nove.
E nove, nove. De nove. Nove, mente.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Dietilamida do ácido lisérgico, prozac,
e dois dedos de uísque, por favor.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Quinta-feira, eras Mènage e Boêmia.
Quinta-feira! Ninguém mais te descreve.