sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Venturaestrela, cap. nº 5.

Não sei o que te contar sobre os descasos da vida; ou simples acasos. A vida é assim: de sorte e de estrela. Sorte e amor - como meus olhos que voam em constelações - em tuas constelações. Onde estrelas reluzem, e brilham, e riem, e gozam de sua beleza colossal. Como a imprecisão do belo, de teu brilho estrelar, de tua boca, de teu corpo, de ti. Que me sacias quando perco o chão e o ar e tudo que possuo ao te respirar. Deveras cheia de surpresa é a vida. Cruciante e infinita no infinito diante das primaveras com: mares, chãos, areias, olhos e tuas constelações; ela é. Mais belo ainda é o modo que me fazes amar-te ardentemente como um nunca; um sempre. Por ter a certeza de possuir o amor maior, que faz de mim - parte de ti, e todos teus pedaços - parte de mim. Por isso quero que me perdoes, pelo meu jeito inábil e desajeitado sob a vida; que também, às vezes, é escura. Só quero que me queiras bem. Que as estrelas de tuas constelações me sigam por onde eu for. Porque eu te quero bem e mando estrelas te seguirem para cuidar do teu sorriso sereno.
Só não se perca de mim, uma estrela sem um infinito no céu - não vive.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Acervo de cartas para Lynch

11 de agosto de 1886, Liverpool

Sr. Merrick,

Não venho para falar-te de tua Neurofibromatose múltipla. E não é nada agradável de minha parte começar por falar sobre; mas o fiz. Também não venho para falar de teu público que esbanja regozija e suplicio. Querido Joseph, quero falar da sua posição como homem, e convidar-lhe para um jogo de xadrez, bem, não sei se aprendestes durante esses 21 anos esse jogo miserável (mas muito belo, muito belo), e de qualquer forma quero propor-lhe um jogo, talvez dois, minha ansiedade de conhecê-lo é possivelmente meu maior interesse no momento, minha mãe fala muito do senhor, acho até que anda apaixonada (Admito! Mas não sei o certo), sei que deves andar ocupado, e se acaso não souberes jogar - eu te ensino, com o maior prazer. Vi-te no teatro ontem à noite, minha mãe ia me apresentar a ti, mas tu estavas com a Rainha e esbanjavas tanta nobreza que mamãe deve ter esquecido pois não sobrou tempo, talvez tenha sido por tal que desejei te escrever. E oque achastes da peça? Maravilhosa, não? Um incrível musical! Queria poder discutir a peça e tomarmos um chá enquanto te ensino xadrez. Que tal - Two O´clock? Terça-feira! Estarás ocupado? Se estiveres me avise, não quero incomodá-lo. Caso não – está marcado! Xadrez, chá, e críticas teatrais. E a, adoro plenamente o poema de Isaac Watts que tu sempre terminas as tuas maravilhosas cartas, não vou citá-la - pois a conhecemos detalhadamente, e bem, não há muito que falar. O convite está feito. Espero que gostes da minha companhia, pois tenho certeza que irei gostar da tua presença culta, educada e simpática.

Anne M. Kendal, Filha de sua querida Sr. Kendal.

Acervo de cartas para Lynch

Dallas, 30 de Dezembro, 1978

Henry Spencer,

Bem, Sr. Henry... Ou deveria chamar-te de Tr00 Black? (Creio que - pelo cabelo!) Ou seria Henry X (Que seria a mistura “cifrável” com Mary!) ou apenas X? Não sei como preferes, nem se preferes e por isto não vou chamá-lo, e de qualquer forma - não importa! Prometo sim ser curto e breve: Quero apenas exercer minha indignação e angústia sobre o teu “sonho de coisas escuras e perturbadoras”; ou não. Não sei exatamente o que o seu criador quis dizer com todos aqueles símbolos e gestos e enigmas, e creio que nem tu saibas! Entretanto isto não é exatamente o que quero discutir, já que surreal e indecifrável – todos nós sabemos que és. Digo és, porque me refiro a ti também, não somente ao sonho – que é apenas teu e do teu criador maluco. Quero somente saber uma coisa: Apaixonastes-te mesmo pela vagabunda do 27, não é? Diga, vai! Ficastes boquiaberto desde a primeira vez que a viu – com aquele roupão entreaberto deleitando parte de seu seio, não foi? Morena, ninfa, uma digna femme fatale (Hitchcock que me desculpe, mas aqui não há lugar para estereótipos loiros e cativantes). Ficastes encantado, não foi? Tenho certeza que Lynch nunca admitiria isso, mas tu eu sei que sim, eu sei! Ficastes apaixonado por ela, sonhastes com seu fervor nos lençóis de tua cama, a devorastes em teus sonhos e depois virastes borracha. É, Borracha! Pequenos pedaços que somente servem para apagar erros - todos aqueles que cometestes - principalmente o de ter um filho com uma mulher que mal o deixara chegar perto. Ficastes louco pelo fogo ‘27’, e com toda enlouquecia percebestes que iria virar o próprio erro se não furastes as entranhas de teu filho. Não querias virar um erro ou simplesmente uma borracha na vida da ninfa, não é? Estavas com medo de ser rejeitado pela prostituta nas noites seguintes e de acabar como mero borrão mal-apagado - admita! Apenas incoerência, um paradoxo qualquer. E não, não fales uma palavra, eu já sabia, sabia, o absurdo dessa enlouquecia de uma paixão fervente vale muito mais que um cuidado paterno para ti e para o zoom misterioso adentre desse teu criador surrealista, maluco, libertino - é: pirado da cuca; ou não.
X.