sábado, 3 de outubro de 2009

Acervo de cartas para...

Trondheim, 3 de outubro de 1992, Temperatura: 7 graus. Tudo está vazio. Saudade. Das pessoas? Não.

Saudade é coisa banal, eu sei. São 18h e 03min neste ermo que me encontro e isso também é banal, também já sei. Tudo já sei ti, de tudo recordo. Tuas particularidades, sorrisos, andares, infinitos, laranjas, olhos, bocas... No teu redor tem verde, tem azul, tem vermelho e multicores. Teu sexo é anil. As partes de teu corpo ciano. Teu pensar branco. Teu vestir magenta. Teu nu fúcsia. Teus pés amarelos. Teu todo furta-cor. Meus sete dias coloridos. Depois tuas cores no calor, longe daqui, longe de mim. Um ser único; com saudade tua, portanto. Único? Não.

Em 7 fusos horários à esquerda e 105 graus de latitude daqui existe alguém com saudade de ti, eu sei. Talvez não de ti, mas de tuas cores literais e do teu sexo. Que pronuncias em tons vermelhos Bakunin no gozo. Todos os sentidores de saudade - mesmo que fossem conservadores e autoritários - lembram de Bakunin com louvor. Marca tua, essa. Este jeito de ser Anarquista na cama. Lembro bem quando uma vez pronunciates Tchékov durante o auge de desejo de nossos corpos. Não entendi. Digo, deve ter sido diferente. Uma transa incomum. Pacifista. Amorosa. Dramaturga. Foi aí que me vi apaixonado. Entrelacado no teu corpo. Sentia-me cada vez mais numa comédia teatral, cômica e trágica entre teus cobertores e as Gaivotas de Tchékov. Depois da lambança você saia e eu te pagava. Depois da sétima noite nunca mais voltastes. Somam num total de quatorze tostões meus por uma puta culta. Eu sei.

Já paguei mais umas outras dez pelo mesmo serviço. Queria uma cópia tua. Nenhuma outra emitia algum som além de gemer. Nostalgia é lembrar das noites Byronianas. Te procuro em todo lugar. Não lembro tua face. Sei que não vou achar. Sei também que fostes para um lugar qualquer tropical. Deves gostar muito mais do povo caliente. Mas eu não vou parar de procurar. Um dia quem sabe tu apareces, faz outro serviço enquanto fico na ânsia de balbuceares as cousas de Pushkin, Dostoiévski, Tolstói ou qualquer porcaria russa. Até que eu peça para que fiques, que me ames e que não me deixes. Que me faça implorar. Que me faça casar a nossas vidas. Que me faça prometer tua felicidade. Iremos para todos lugares. Inclusive os quentes. Coloridos. Longe daqui, onde tudo é cinza. Prometo todos teus desejos. Apareça logo. A felicidade espera, mas a vida não.

Eu e a saudade do teu mundo.