quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Alter ego

(...) Estavam sob a luz da lua suntuosa, deram uns cinqüenta passos na areia da praia, olhavam as estrelas e lhes fizeram um pedido incomum, aproximaram seus rostos, naquela emoção perplexa deram um sorriso peculiar, olharam adentro de seus olhos ofuscantes, sentiram a sincronia - mesmo sem se sentir, sob a trilha sonora do céu, se tocaram, rasgaram seus princípios sob a quizila do tempo, nas pontas dos pés fitavam-se, então abriram seus braços pálidos e seus corpos se tornaram um só.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Bona fide

(...) O andar desprotegido, meio em curvas tristes, desvia pro meu lado e adormece em meus ombros, deixando-me envolver ao seu plural em letras minúsculas, paralelo ao meu desamor, entrelaçado ao meu amor, joelhos tremem e borboletas se debatem em meu corpo. sob esses olhares contemporâneos e cosmopolitas é duvidoso dizer que não a olham com um monólogo e um dicionário tentando decifrar hora pós hora a ânsia do coração daquele ser adormecido em meus ombros; e eu com aquele sofrimento melancólico cheio de saudades do que não acontecera, sob o pôr-do-sol acariciava-lhe em meus sonhos.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Alibi

(...) Aquele garoto neurótico, como era chamado pelos ratos, com quem convivia no porão cada dia mais com a mediocridade e as controversas, aquele andar linear, balancear desengonçado, cabeça de balão que só tinha um sonho, aquele lá o de ver a luz. cada dia que se passava ele tinha de conviver ainda mais com a solidão e se alimentar de escuridão com aquela inutilidade toda - que era da sua própria cabeça, da sua própria imaginação - mas ele não tinha o dom de ver, era em razão de glaucoma incorrigível deis de que nascera, mas ele não sabia e nem queria saber o porquê que ele tinha de viver sempre num porão, apenas criava e recriava sua própria melancolia em qualquer lugar, imaginava com sons, desconhecia as cores, pensava com as mãos, imaginava logo tinha de suportar desavenças desnecessárias, ouvia vozes de ratos, eram pessoas que para ele eram ratos, apenas estava em busca daquilo, que sempre quisera, a luz de qual os ratos lhe falavam, ele estava enlouquecendo por uma nostalgia duma cousa que ele jamais vira.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Natal na Ilha do Nanja

"Na Ilha do Nanja, o Natal continua a ser maravilhoso. Lá ninguém celebra o Natal como o aniversário do Menino Jesus, mas sim como o verdadeiro dia do seu nascimento. Todos os anos o Menino Jesus nasce, naquela data, como nascem no horizonte, todos os dias e todas as noites, o sol e a lua e as estrelas e os planetas. Na Ilha do Nanja, as pessoas levam o ano inteiro esperando pela chegada do Natal. Sofrem doenças, necessidades, desgostos como se andassem sob uma chuva de flores, porque o Natal chega: e, com ele, a esperança, o consolo, a certeza do Bem, da Justiça, do Amor. Na Ilha do Nanja, as pessoas acreditam nessas palavras que antigamente se denominavam "substantivos próprios" e se escreviam com letras maiúsculas. Lá, elas continuam a ser denominadas e escritas assim.

Na Ilha do Nanja, pelo Natal, todos vestem uma roupinha nova — mas uma roupinha barata, pois é gente pobre — apenas pelo decoro de participar de uma festa que eles acham ser a maior da humanidade. Além da roupinha nova, melhoram um pouco a janta, porque nós, humanos, quase sempre associamos à alegria da alma um certo bem-estar físico, geralmente representado por um pouco de doce e um pouco de vinho. Tudo, porém, moderadamente, pois essa gente da Ilha do Nanja é muito sóbria.

Durante o Natal, na Ilha do Nanja, ninguém ofende o seu vizinho — antes, todos se saúdam com grande cortesia, e uns dizem e outros respondem no mesmo tom celestial: "Boas Festas! Boas Festas!"

E ninguém, pede contribuições especiais, nem abonos nem presentes — mesmo porque se isso acontecesse, Jesus não nasceria. Como podia Jesus nascer num clima de tal sofreguidão? Ninguém pede nada. Mas todos dão qualquer coisa, uns mais, outros menos, porque todos se sentem felizes, e a felicidade não é pedir nem receber: a felicidade é dar. Pode-se dar uma flor, um pintinho, um caramujo, um peixe — trata-se de uma ilha, com praias e pescadores ! — uma cestinha de ovos, um queijo, um pote de mel... É como se a Ilha toda fosse um presepe. Há mesmo quem dê um carneirinho, um pombo, um verso! Foi lá que me ofereceram, certa vez, um raio de sol!

Na Ilha de Nanja, passa-se o ano inteiro com o coração repleto das alegrias do Natal. Essas alegrias só esmorecem um pouco pela Semana Santa, quando de repente se fica em dúvida sobre a vitória das Trevas e o fim de Deus. Mas logo rompe a Aleluia, vê-se a luz gloriosa do Céu brilhar de novo, e todos voltam para o seu trabalho a cantar, ainda com lágrimas nos olhos.

Na Ilha do Nanja é assim. Arvores de Natal não existem por lá. As crianças brincam com. pedrinhas, areia, formigas: não sabem que há pistolas, armas nucleares, bombas de 200 megatons. Se soubessem disso, choravam. Lá também ninguém lê histórias em quadrinhos. E tudo é muito mais maravilhoso, em sua ingenuidade. Os mortos vêm cantar com os vivos, nas grandes festas, porque Deus imortaliza, reúne, e faz deste mundo e de todos os outros uma coisa só.
É assim que se pensa na Ilha do Nanja, onde agora se festeja o Natal."

Por Cecíclia Meireles.

sábado, 1 de dezembro de 2007

Frustração de merda

Imagine eu, você e uns amigos num breakfast at tiffany's, onde exigiria com certeza coffee + cigarettes, e claro muita arrogância, que logo exige, agora mais do que nunca, um Bettie Page style hairdo, nada moderno, mais clássico, nada demodê, e esbanja o glamour, ao som de Moon River, e convivendo a momentaneamente com varios sinônimos e antônimos, e sem essa de dizer que na hora dessa imaginação discutimos assuntos fúteis e estúpidos, vazios de conteúdo intelectual, com um ar blasé, e que a cada minutos fazemos uma cara de tédio, e de quem comeu e não gostou,(até aqui, é verossímil), e como seres indelicados (oh! jamais), mas bem às vezes a indiferença me assalta, nessa cousa de viver e respirar, nessa hipocrisia momentânea os amigos imaginado(você deve estar imaginando a situação, preferência que fosse dislexico) de me perguntarem com muita ignorância se eu logicamente trago algo, é claro tiffany do meu lado, esbaja risos dos demodês que se atreveram a perguntar, pois se é umas da cousa que me faz linha, bem não abandono 'esto', agora vindo a realidade, sem imaginações, me fazem isso, é sim, realmente essa pergunta, meu interior ri, e além do mais as pessoas e principalmente amigos 'alfaces' que vivem dizendo pra mim largar do meu vício, é inútil! e poxa, não é bem assim, eu acabo me irritando com isso, com essa hipocrisia do ser, o que há de mais, e bem, o problema abortado por todos estes que 'aconselham-me' parar é porque esse vício - que regulo muito bem - tira-me a vida, ah! são preocupados com a minha saúde, claro que é pouca falsidade mesmo, haha, então se isso pode tirar-me assim segundos, minutos, horas, dias, meses de vida, não me importa, e que seja, a mim esse tempo negativo realmente não importa, não mesmo, porque ah vá! prefiro - eu - viver uma hora a menos do que existir duas horas a mais, sim.

Bem, eu diria: que inútil isso, querer por minha repugnância escondida pra fora, e não conseguir coisa nenhuma, que raiva, que joça. tenho que ir assistir manhattan connection agora, não leia cousa alguma se você ler primeiro essa frase, grr.porque sabe, tudo isso é só revolta de quando alguém diz pra largar de algo! e bem, não o faço. não mesmo. isso esbanja, repugnância dá minha parte, estes são hipócritas e não conselheiros, hão de tirar o meu viver. sim. mais não deixo. não. Revoltante, revoltante, essa minha frustração de não conseguir escrever nada relevante ultimamente, quase morro.

Foto: quarto e studio de alfred e., por ele mesmo.