segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Ventos

Um sufoco rondava por mim, talvez fosse um sopro da verdade, um soco enlouquecido, um ar com sabor de acre jogado aos ventos. Na calçada, sentada, percebi que o acre passava pelo meu rosto sussurrando qualquer palavra feliz, como se me dissesse que ele iria passar logo e depois passariam outros sabores agridoces e depois totalmente doces, amáveis, afáveis. Cristalizei por um segundo, entretanto deixava sempre o tempo passar com os ventos. Ventos que entravam em minhas janelas, portas, buracos pequenos, lugares onde só eles poderiam passar, e então, chegavam a meus ouvidos e falavam qualquer coisa boba, qualquer coisa que me fizessem esquecer o gosto de acre e logo sumiam, corriam para de baixo da cama de uma menina, indefesa, indecisa e trancavam-se dentro do seu velho baú. Um baú cheio de histórias, segredos, amores, bilhetes, coisas pequenas, imagens e um coração chutado, guardado em meio de coisas velhas, parte arrancada de mim. Junto aos meus sorrisos guardados em baixo da cama, para que ninguém visse. Mas confesso que um dia deixo os sabores dos ventos tomarem conta de mim e me carregarem por inteira para dentro do baú.

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