Dallas, 30 de Dezembro, 1978
Henry Spencer,
Bem, Sr. Henry... Ou deveria chamar-te de Tr00 Black? (Creio que - pelo cabelo!) Ou seria Henry X (Que seria a mistura “cifrável” com Mary!) ou apenas X? Não sei como preferes, nem se preferes e por isto não vou chamá-lo, e de qualquer forma - não importa! Prometo sim ser curto e breve: Quero apenas exercer minha indignação e angústia sobre o teu “sonho de coisas escuras e perturbadoras”; ou não. Não sei exatamente o que o seu criador quis dizer com todos aqueles símbolos e gestos e enigmas, e creio que nem tu saibas! Entretanto isto não é exatamente o que quero discutir, já que surreal e indecifrável – todos nós sabemos que és. Digo és, porque me refiro a ti também, não somente ao sonho – que é apenas teu e do teu criador maluco. Quero somente saber uma coisa: Apaixonastes-te mesmo pela vagabunda do 27, não é? Diga, vai! Ficastes boquiaberto desde a primeira vez que a viu – com aquele roupão entreaberto deleitando parte de seu seio, não foi? Morena, ninfa, uma digna femme fatale (Hitchcock que me desculpe, mas aqui não há lugar para estereótipos loiros e cativantes). Ficastes encantado, não foi? Tenho certeza que Lynch nunca admitiria isso, mas tu eu sei que sim, eu sei! Ficastes apaixonado por ela, sonhastes com seu fervor nos lençóis de tua cama, a devorastes em teus sonhos e depois virastes borracha. É, Borracha! Pequenos pedaços que somente servem para apagar erros - todos aqueles que cometestes - principalmente o de ter um filho com uma mulher que mal o deixara chegar perto. Ficastes louco pelo fogo ‘27’, e com toda enlouquecia percebestes que iria virar o próprio erro se não furastes as entranhas de teu filho. Não querias virar um erro ou simplesmente uma borracha na vida da ninfa, não é? Estavas com medo de ser rejeitado pela prostituta nas noites seguintes e de acabar como mero borrão mal-apagado - admita! Apenas incoerência, um paradoxo qualquer. E não, não fales uma palavra, eu já sabia, sabia, o absurdo dessa enlouquecia de uma paixão fervente vale muito mais que um cuidado paterno para ti e para o zoom misterioso adentre desse teu criador surrealista, maluco, libertino - é: pirado da cuca; ou não.
X.
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