sábado, 29 de novembro de 2008

e c o a
c o m o e f í g i e
s e m e s m e r o d e
q u e m f i n g e
n o e c o

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Para o sangue, sou o veneno
Eu mato, eu como, eu dreno
Para o resto da vida, sou extremo
Sou o gosto do azedo
A explosão de um torpedo
Contaminação do medo
Eu guardo o seu segredo
Sou o HIV que você não vê
Você não me vê
Mas eu vejo você

Sou a ponta da agulha
Tanto bato até que você fura
É a minha a sua captura
Sou dupla persona
Seu estado de coma
Sou o caos, sou a zona
Seu nocaute na lona
Eu sou o livre-arbítrio
Sem causa com efeito
Sua força é meu grande defeito

Beto Lee

domingo, 24 de agosto de 2008

Olvidaram As Flores do Mal

Minha cabeça e minhas sentenças sempre foram belos enfeites para velhas bandejas. Sim. Sem. Algumas pessoas têm dito que não saio de casa, outras, porém que não paro em casa. Anteontem fui até a cidade onde vivi durante quatorze anos. Caminhei uns dois quarteirões perto de minha antiga casa. Percebi que as pessoas já não me reconheciam. Já não me cumprimentavam mais. Não puxavam uma cadeira para a varanda nem me chamavam para conversar. Não me paravam. Não acenavam. Não sorriam. Nem se quer olhavam direito. E quando olhavam, pairava um ar de desconfiança, um ar de recordação mal guardada, uma lembrança fosca, onde os olhos entreabertos, pensativos, com esperanças de um recordar. Mas o fim era sempre o mesmo, não recordavam. Acontece que eu recordava. Eu sempre recordo. Das ultimas palavras. Da ultima cor. Do ultimo lugar. E aquele lugar era o mesmo. As pessoas eram as mesmas. Apesar das rugas a mais. Não penso que tenha passado muito tempo. Não penso que tenha deixado uma vida inteira para trás. Não penso que tenha esquecido de todos aqueles. Não penso que minha face tenha mudado tanto. Não penso. Não. Nesse mesmo dia, fui até a casa de Dona Aimeè. Seria impossível que ela não se lembrasse de mim. Foi ela quem me apresentou a Baudelaire, aos dez anos. Mesmo não entendendo os seus enigmas e as suas palavras. Eu amava tudo o que ela me dizia. “-Dona Aimeè! Sou eu! A Ana! Sua pequenina!”. Ela não falou uma palavra. Ficou muda. Fechou a porta na minha cara e foi olhar pela cortina se eu ainda estava alí. Senti-me como uma estranha no meu próprio bairro. Não sei se foi o tempo que os fez esquecer-me, ou se fui eu que esqueci de avisa-los que ainda amo aquele lugar tanto quanto os amo. O tempo não volta. Fazer tudo de novo não adiantaria. As flores de Baudelaire morreram. Agora é tarde.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008



Do teu
VERSO

confesso que
CARREGO
um pedacinho
MUDO
quase sem
FUNDO
que meu
coração

VAGABUNDO
guardou pra ti
EM mim.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Constituição de Chocolate!

Nunca fui de gato e rato. Muito menos de cumprir mandamentos. Aos 10 saía à noite, aos 12 caia bêbeda, aos 13 fumava canela. Em 95 brincava de bonecas. Em 42 os nazistas invadiam Stalingrado. Em 45 a flor de Hiroshima desabrochava. Em 68 o AI-5 cuspia e censurava na cara de quem quisesse. Em 69 meus avós sofriam torturas da ditadura por defenderem seus ideais. Hoje, qualquer um cospe em religiões, mas quando o cu aperta eles rezam. E de modo contrário, hoje, religiosos escondem atrás dos evangelhos o seu lado ignorante, fechado e preconceituoso, para assim, se sentirem livres ao dizerem asneiras com um pretexto qualquer ao louvar por um âmago inexistente. Ontem e hoje, sempre houve alguém que gostasse de criticar o homossexualismo, entretanto - nunca amou na vida, muito menos tentou entender as opiniões alheias. Amanhã sempre terá alguém a julgar e criticar a política enquanto não move um dedo para revolucionar. Agora, sempre tem alguém querendo falar mais, dizer o que é certo ou errado, mesmo ao saber que vive em cima de muros, onde os fortes fazem as leis. Hoje, dizem ter inventado a mulher moderna, mas na cama e em casa muitas delas se submetem aos pés de muitos outros. Hoje, todo mundo se diz esquerdista, comunista e anti-capitalista, mas freqüenta todos os dias o Bob’s ou o Buger King e andam com seus sapatos importados ao sofrer influências diárias. Em 1215 a Magna Carta já falava sobre um querer qualquer de liberdade, e até hoje nada. (...) Eu não gosto de utilizar pretextos só pra dizer que eu quero chegar num ponto chamado Diretos Humanos. Nem reivindicar isto. (...) Muitos vão para a escola e são obrigados a ouvirem asneiras como Os direitistaso idiotas ou os esquerdistas são uns hipócritas; -Todo mundo é preconceituoso! Não adianta querer fugir! NÓS SOMOS PRECONCEITUOSOS!; -É! SOMOS RACISTAS! POR MAIS QUE VOCÊS NÃO QUEIRAM!... E é! Ouvi isso de um professor, e é um choque ouvir alguém falar assim... Como se a maioria fosse acreditar nisso e no que ele acha certo. Ouvimos a pura manipulação de uma geração que tenta nos oprimir, e entre outras coisas que escuto diariamente - sinto vontade de gritar ao ver tal, mas não me rebelo - apenas penso que cabeça dura um vez vai ser sempre cabeça dura. Porque em verdade, as pessoas não fazem nada. MUITOS até concordam, Ah! Ingênuos (e)muralhados! E o que causa isso é essa cabeça da geração acima, que nos chama indiretamente de - idiota, ingênuos, pseudos, não-revolucionários, de geração coca-cola -, uma cabeça que somente irá mudar quando nos rebelarmos. Porque eles nos provocam, nos chamam de incapacitados, enquanto na verdade eles só têm é MEDO de que nós pudéssemos ser melhores e mais revolucionários que eles. Eles têm é medo de que nós algum dia alcancemos os ideais que eles não conseguiram. Chamam-nos de geração não-pensante, de ridículos, de voto-nulo, de inexistentes, de problemáticos sem concepções religiosas. E ainda muitos da nossa geração ainda concordam com a “geração acima” ao invés de se rebelar contra a idéia deles, contra o medo deles. Porque eles (geração acima, geração mais velhas, nossos avós, pais) têm medo, e então nos oprimem para não conseguirmos o que eles queriam. E eles sabem que enquanto não houver sangue moral, ninguém vai entender o que é fazer da palavra - verdade. E assim nos fazem acreditar que não há mais nada a fazer. E enquanto nada acontecer eles vão continuar a nos provocar e nos oprimir ao tomar os seus chocolates quentes esperando por ver o nosso fracasso.

Orafodas, tire uma interpretação errada de qualquer palavra aí, e eu estarei no lixo.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Donuts

(Pic/Three: David Byrne)

E eu que não queria aiar... Fazia com que,
meu interior murmurasse "Por que só tu?!"
e minha máscara obtemperasse "Por que só eu?!"


terça-feira, 15 de julho de 2008

Verde-borda

Faço parte dessa lama. Desse ocaso. Desse centro que não é nenhum. Sempre fui à procura das bordas dos furacões. Para depois tentar fugir dali pr´outro furacão. E tentara quantas vezes? E falhara quantas mais? Nada responde esse tempo. Nada responde essa mediocridade, essa hipocrisia. Porque depois de muito tempo, aquelas bordas nubivagas, que nunca encontrei, me ensinaram como eu me auto-flagelava. Coisa que eu sempre fazia, mas não sabia. Ninguém sabe, e todos fazem. Todos querem é fugir da borda, procurar algum sentido de vida, uma ilusão farsante, uma hipocrisia atrás de outra. Eu fui de encontro às bordas, e entretanto não as achei, e em parte dessa busca foi o que me mostrou as coisas que sou. Que sempre fui, e nunca abrira os olhos. Em verdade, sempre quisera furar os olhos para tudo que via. Sempre quisera dizer-se o bom e o justo! Essa coisa medíocre. Essa farsa toda. A borda me mostrara o que sempre achava que não era, mas é o quê todos são. Agora furo, fundo, com duas ou três estacas! Esses olhos cegos, que nunca quiseram ver. Que preferiam ver, em verdade, toda a mentira. Agora corto, loucamente, essas pernas que nunca quiseram correr. Porque agora jaz. E já não quero pular. Nem uma, nem duas vezes. O caminho das bordas já é o suficiente. Tanto quanto para furar os olhos, e então achar a borda, e por si construir outros olhos, e outras pernas, as quais já não procuram mais o ocaso. Porque todos procuram o centro do furacão, a lama verde do ocaso, e não falo para um novo renascer. Falo pela hipocrisia dos homens de acharem-se bons e justos ao odiar toda aquela hipocrisia que dizem não ter, e que dizem não ver em si. Mas os outros! Ah! Que furem os olhos desses farsantes! E que furem os meus também! Porque amo todos esses que nunca criaram nada sobre a verdade, mas sempre supuram tudo em cima de qualquer outra cousa incerta, hipócrita. E porque falo no ocaso de acreditar no que acreditam outros homens. Que ainda se dizem bons e justos. Falo também da ponte que existe por cima do ocaso. A solução de tudo. Porque algum dia alguém entendera que não basta fugir e se iludir. E então terá de mostrar toda a verdade aos outros homens. Sem se julgar bom e justo. E ensinará a todos aqueles, a superarem o âmago da lama. O âmago do ocaso. Ensinará superar tudo e todos, para que tais não se tornem o que combatem. E para então entender, esse alguém terá de matar todos aqueles que não acreditam em si, que não acreditam que são seu Próprio Deus - e de mais ninguém, matará também aqueles que vivem à procura do ocaso - como se tal fosse uma essência. Em verdade, só queria que tivessem me ensinado à não fazer parte dessa lama, desse caos, desse eterno retorno. Que, antes de tudo, tivessem me mostrado as bordas. Para que agora eu já não precisasse correr sem minhas pernas e olhos.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

ΘΕΟΓΟΝΙΑ

Parei de postar aqui por um tempo, é. Mas não é por preguiça, não. Falta de tempo, sim. De qualquer forma tô mesmo é tentando escrever qualquer coisa por alí:

http://teogoniacomcafe.blogspot.com/

inté.

domingo, 27 de abril de 2008

B.


Excuse me

But I just have to
Explode
Explode this body
Off me

I'll be brand new
Brand new tomorrow
A little bit tired
But brand new

Björk

segunda-feira, 31 de março de 2008

Search

Sob o orvalho e a neblina observava seus olhos ardentes, percebia a intensidade que sentia, ele desejava o recomeço, mas não sabia por onde cair primeiro, não sabia nem se deveria cair, falava sobre o tempo e não conhecia seus ponteiros em números certos, escrevia nas entrelinhas palavras bonitas e não se via, mas estava sempre ali, em primeira, segunda, terceira pessoa, numa freqüência quase sem querer. Tinha vontade de ver seu velho eu, cara à cara em seu espelho, mas nunca o via, e foi ao quebrar o espelho que ele decidira viver novamente, mesmo sem saber por onde começar, não sabia nem se deveria ter um começo, queria apenas uma qualquer situação a qualquer momento que o surpreendesse, sem ambições, sob a adrenalina, pensava em mil coisas, experimentava outras mil e em outras tantas, só queria cada vez mais o agora, em uma voz repetitiva.

O querer do próprio desprezo

...Pairava sob o vento frio e as estrelas caídas, enquanto a colina a olhava, estrelas lhe tocavam e a noite orava por qualquer coisa viva, ela se sentava, abria umas páginas, caneta, recortes, todos pedaços de uma vida, em letras imersas de uma ilusão farsante, onde observava a sua própria dor, amargura, frieza, via o sentir de seu coração, pulsar sem jorrar o sangue que corria congelado, queria correr, gritar, amar, odiar, querer, sentir, sentir, sentir! quanto mais observava-se mais tornava-se um oco nada, cada gesto seu refletia em frente a colina, e sentia o querer de viver, o querer de um sentir qualquer, e não o tinha, nem o próprio desprezo, se prendia sempre a um reflexo sob a água do lago no amanhecer, sentia um querer de recomeço, queria correr, e não queria.

quinta-feira, 6 de março de 2008

(un)well

...E o sol estava de pernas abertas e a (des)entranhar a luz, a vida.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

B-day.

...

Escrevo-te qualquer coisa hoje - por que não sei do amanhã. E porque hoje é realmente um dia muito importante, principalmente pra você, que és a pessoa que eu mais amo nesse mundo, na qual eu só tenho a agradecer, por tudo que me fizeste, pela felicidade que colocaste dentro de mim, pela grande maturidade que eu ganhei te tendo, e pela responsabilidade que tu agora me fazes ter, e que antes de tudo, antes de nós, você é uma das melhores amizades que alguém pode ter, e agradeço todos os dias por você estar aqui, aqui dentro de mim, pode parecer estranho - e é, mas você sabe que, o quê eu realmente sinto ainda não tem nome, ele tá aqui dentro e nenhuma palavra há de conseguir bota-lo pra fora, é algo que nasce comigo, mas só sobrevive contigo, e é esse sentir em qual tu cuidas, que me aflige, que me faz adoecer, que faz minha boca suspirar, sufocar, minha cabeça pesar, e meu corpo inteiro estremecer, só de pensar em não te ter.
Naquela época, na qual não lhe conhecia, o tempo era lento, tortuoso, e me fazia escrever em linhas retas toda aquela melancolia fria, na qual eu me via todos os dias em meu próprio espelho, mas agora, não me importam as linhas, não importam as quebradiças, as dificuldades, porque nossas mãos modelam letras-próprias e elas não precisam nem se quer formas, apenas do sentir um dentro do outro.

Quero só dizer-te que eu te amo, e não é da boca pra fora - nunca foi, queria me desculpar por nossas brigas à toa, que são necessárias e me fazem confiar em ti cada vez mais, e te querer sempre loucamente, por que agora e quero realmente que tu sejas a pessoa mais feliz desse mundo, obrigada pelos sorrisos bobos que tu me fazes ter a cada nascer-do-sol, à cada instante, à cada pensamento, te agradeço por me fazer voar e, me sentir um pouco mais surreal à cada dia. Eis hoje o teu dia, parabéns meu amor, e abra teus braços – hei de te fazer feliz.

Não sei se eu deveria expor uma carta pessoal assim aqui, mas, aniversário não se faz todos os dias. não é mesmo? enfim.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

o como é, é como o...

Timbre das cores, Indolente Tom-insínia
Atroz Insínia-tom, Cores dos timbres
Colorida-Baratimia, Erudito-dom
Misantropia-corada,
Lá pra observar
e Procrastinar
Procrastinar
Procrastinar

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Prefácio

... Antes de morrer, me aprofundando num abismo, sem água e sem fundo, cheio de palavras inertes e inativas em qual mergulhar-me-ei, tenho de dizer que essa morte, por palavras obscuras, não é culpa de ninguém, não, como me disseram que não se vem ao mundo aos pares, assim também não se vai, é como se corpos juntos e corações compartidos nunca existissem, minha parede grega que o diga, é sofrida.

Tenho parado de ler F. Nietzsche, por que agora ele tem me dado conselhos em como criar uma teoria e resoluções sobre sombras, todas as noites; ele está lá, em meu quarto, com seu sotaque alemão, que tem me agradado bastante, principalmente quando se invoca à falar da politicagem de seu tempo, e sinto-me até aliviada de saber que é sorte dele, talvez minha, desconhecer a politicagem desse meu tempo.
Tenho lido Neruda, sim, porquê eu não suportaria ter que ouvir todas as noites aquele seu sotaque castelhano sucumbido, sussurrando aos meus ouvidos a indolência de seus poemas-vivos.
Numa dessas noites eu dei folga ao Friedrich N., e abri espaço ao W. Szpilman distorcido com a aparência de Adrien Brody, e ele ficou espatifando a noite inteira sobre O idiota, de Dostoiévski, (e no outro dia achei um link com esse texto em perfeito russo, não agüentei minha curiosidade), falou horas sobre existencialismo, e foi na veia hein.
Foi aí então preferi não dar mais folgas ao meu velho, nem abrir espaços para estereótipos com sotaque polonês.
Mesmo com a minha queda de deixar qualquer um boquiaberto pelo Sganzerla, ultimamente tenho preferido apenas assisti-lo, e tenho deixado o Meirelles de lado, e dando devaneios apenas para o que me deixa tão nubívaga, e isso à meses, o Glauber R.
Parei de ver TV faz quase um ano e meio, e rede nacional parei de ver à uns dois anos, mas para se sincera, nessas férias o tédio tem me abatido, e a tentação me deixa inquieta, então liguei a tv, para ver o quê estava passando, e talvez, quem sabe aquilo me agradasse.
Aí então tive um desmoronamento de aproximadamente três minutos, quando liguei em rede nacional que passava a novela das oito (se não me engano), fico parada, aí de repente ouço uma atriz falando os nomes “Kubrick e Truffalt”, comecei a observar e vi um quadro escrito o nome de Pasolini – como plano de fundo, uma cortina com desenhos e obras de arte estampadas de Roy Lichtenstein, um papel de parede rosa com folhetos iguais falando sobre avant-guarde, e um guarda-roupas de vidro, dividindo imagens de Warhola e Basquiat (se não me engano quanto as graffitagens de basquiat).
Belas decorações, mas isso tudo foi o basta, desliguei aquilo e decidi não ligar mais, por um momento me senti indo às lágrimas por saber que amanhã a maioria dos miseráveis desse Brasil inteiro vão se sentir tão cultos e cépticos, quanto aos verdadeiros interessados, apenas por assistir mais uma dessas novelas desmoralizadoras antes de ir dormir.
A maioria talvez nem saiba que está aspirando essa intelectualidade toda, talvez nem saiba que está sendo manipulada por uma grande mídia, a qual cria e põe a sociedade para dormir, e assim muda a personalidade de quem bem-entende, é muita hipocrisia mesmo, e ainda acham que estão jogando ao povo o quê provavelmente é certo. (são mais é um bando de desgraçados!).
E eu que pensava em fazer jornalismo, conviver com essa mídia, tinha esse sonho antes de assistir os malditos três minutos de manipulação por ver que tudo que aprendi a cultivar em quinze anos está passando aos baldes em menos de uma hora por dia, então decidi que realmente não quero estar no meio de tais medíocres, o quê é lamentável.
Tenho até pensado que quem ouve funk hoje, por influência de novelas passadas, daqui uns tempos estarão ouvindo música independente amanhã; depois de amanhã e depois sucessivamente vão construir outro novo padrão de brasileiros.
Pode até parecer estranho, mas três minutos de ‘poluição visual’ destruiu boa parte dos meus sonhos, tenho pensado no quê teria acontecido se eu estivesse assistido cinco minutos.
Numa dessas noites andei comentando com Byrne sobre essas coisas da tv, ele ficou espatifado, e me aconselhou não fazer parte dessa gente que passa de um dia pro outro saber tudo sobre as artes sem o mínimo interesse de admira-las e ama-las.
Então ao invés de ligar a TV, tenho preferido dar água para as minhas arvorezinhas e passar dicloro-difenil-tricloroetano por perto delas, por que eu acho que graças ao Paul Hermann a minhas plantinhas vivem mais tranqüilas, ou quase.
Tenho pintando alguns quadros também, se não me engano o meu ultimo foi uma tela a óleo preta-e-branca com um desenho-cartoon de Andy Singer, por que ainda não consigo desenhar críticas consumistas por conta própria, é, de fato essas férias tem me dado muito tempo de sobra.
Ando pensando, se todo mundo ouviu david byrne, pelo menos quem tem winxp, pela amostra de música ouviu, porquê que ninguém me fala ou comenta uma palavra sobre, sinceramente ele tem o sotaque mais deleitável que já ouvi, ganha até daquele sotaque alemão, mas fazer o quê né.
Eu estava tomando banho agora, e pensei em escrever qualquer coisa que acabasse com esse meu abismo sem fundo de palavras não ditas, e agora sem a minha percepção, nem sinto mais as minhas energias libidinosas, ultimamente uma grande bílis negra tem me predominado e meu inconsciente tem tomado conta de mim, e está cansado de tanto desdenhar.
E como não consigo à meses botar minha frustração pra fora, nem gritando, tenho me sentido morta, sem morrer, e nem abismos, nem mortes fictícias me matam mais.
Penso já que devo ir pro meu divã, ainda devo reservar alguma noite aí para o Milan Kundera pra discutirmos um pouco sobre o melhor livro da minha vida, A insustentável leveza do ser, em versão original, que eu emprestei à alguns meses e ainda não me devolveram, sinto falta de sentir as entre-linhas cheias de "Muss es sein? es muss sein! es muss sein".
Mas hoje eu reservei a noite com o Bertolucci, já que o meu velho Friedrich N. preferiu tirar por conta própria uma folga por uns dias de mim, e isso tudo por que eu andei contando a ele sobre o nosso carnaval, e ele me falou que eu estava enlouquecendo e que deveria parar de inventar estórias com nomes carnavalescos, reconheci e então preferi deixa-lo ir tomar chá por algumas noites com o Burckhardt para desabafar as mágoas, por que eu não agüentava mais ouvir contextos de niilismo.

Pode até parecer utopia e imaginação das minhas noites em branco com cara de quem nunca viu vera-efígie, mas eu sei o quê vejo e ouço, e ninguém pode me contrariar dizendo que minhas noites são reais ou irreais, cada um pode acreditar no quê bem-entender, sim.

Entranhei o tanto de lixo que tive vontade, e não impus linhas.